terça-feira, 3 de junho de 2025

Agora

No Estadual, esperando a quimioterapia chegar e voltar pra casa, pra Lisa e pra Kitty.
Vontade de chorar.
Não é sempre que acontece mas às vezes vem uma vontade quase incontrolável de chorar.
As dores continuam há um ano e meio mas já em menor intensidade. 
Segunda dose do sexto ciclo de bortezomibe com decadron e nada.
Sinto-me fraca e ao mesmo tempo forte, vitoriosa e como que morrendo na praia ao mesmo tempo.
Confesso que já gostei mais de viver e nem tanto agora.
É, agora estou vestindo as melhores roupas, usando meu perfume favorito, na verdade um dos mais, e a única coisa que me faz querer voltar viva pra casa são meus bichinhos que só têm à mim.
Eu sei bem o que é depender de alguém e em seguida ser deixada totalmente desamparada e não posso deixar minhas duas princesinhas de patas.
Então enquanto observo pessoas tomando drogas pra sobreviver me pergunto como consegui chegar ao ponto de que tudo que me faz querer viver são dois animais. 
Sinto falta do meu pai.
Já fez um ano e me sinto sem vida pela partida dele. 
Agora as lágrimas já rolam e me sinto vulnerável além do aceitável. 
Todos aqueles ferimentos se tornaram calos, uma proteção talvez. 
Os calos, geralmente, nos deixam feios e o que é a vida senão um grande trauma, um acidente que nos expõe às piores dores? 
Eita! Faz tempo que não fico assim, faz tempo que não me permito a tal fraqueza. 
O jeito é levantar e seguir. 

Dag Veloso