quinta-feira, 21 de junho de 2012

Quando criança


Quando eu era criança tudo era objetivo a ser alcançado:
Queria conversar de igual pra igual com os adultos, ser ouvida, também queria me sentar no banco dianteiro do carro, ao lado do motorista mesmo, nem chegava a pensar em dirigir o carro, pra mim só o fato de estar ali à frente já me fazia uma pessoa significativa.
Também me lembro que ir à padaria sozinha me fazia querer seguir até o mercado e se eu fosse até o mercado queria ir até uma loja de departamentos sozinha.
E quando eu brigava com meus irmãos e me sentia a última bolacha do pacotinho; pensava:
Não vejo a hora de ter 18 anos pra morar sozinha!!!
Quando minha mãe me fazia lavar mais louça que o Alex, meu irmão, então era suficiente pra eu pensar que ela o amava mais que a mim.
E na vez que meu pai me deu um tapa no braço? 
Foi a única vez que ele me bateu em toda minha vida, só tinha 9 anos e, me lembro bem, ele me bateu injustamente pois o culpado da bagunça não era, nem de longe, eu mesma! rssss
Também lembro que quando ganhei a boneca mais legal da época, eu orava toda noite pedindo pra Deus me deixar levá-la pro céu comigo... kkkkkkkkkkkk
Como disse tia Suzel: Ela foi é pro beleléu!!!
Me lembro da minha bicicleta cor de rosa, mesmo sendo rosa meus irmãos que não eram preconceituosos detonaram a coitada!! Se soubesse que eles não teriam preconceito, teria pedido a preta que eu queria....
Lembro-me de quando minha mãe tinha que sair e eu me sentia a responsável pelos meninos, mandava e desmandava só porque era a mais velha.
E quando me ajuntava com o Alex pra "brincar" contra o Douglas que era o xodó da mamãe... kkkkkkkk Tadinho!!! Ele era tão lindo que não tinha como não ser o xodó, mas a gente só queria saber de pegar o lugar dele... por fim veio o Abraham.
Bem, ele não chegou a tirar o lugar do Douglas mas era o xodó de todos, o menino mais fofo do mundo!!!
Também me lembro do Alex aprendendo a tocar guitarra e creiam ou não, aprendeu sozinho. O pior é que ele solava o tempo todo um trecho de um rock que já nem lembro e nem quero tentar lembrar... rsss. 
Alex e eu brigávamos por nada, parecia coisa de explosão química... curioso aquilo! 
Lembro quando meu pai ia pra São Paulo toda madrugada de domingo pra segunda (quando vinha nos ver pois não morava com a gente), eu ouvia o carro dele esquentando e chorava quieta debaixo das cobertas pedindo pra Deus protegê-lo na viagem e em todo o tempo que fosse permanecer por lá.
Ainda consigo chorar por isso, acreditam?
Também teve uma vez que minha mãe demorou pra voltar da casa de uma vizinha que nos vendia leite da fazenda dela, morava ha poucas casas da nossa  mas eu entrei em pânico e coloquei os meninos de joelhos pra orarem junto comigo... kkkkkkkkkkkk Ela chegou e nos viu em prantos e ficou com cara de espanto, creio que nunca vira tamanha idiotice em sua vida, ou talvez, tanto amor e preocupação.
Agora essa é hilária: Todas as manhãs eu me deitava no carpete do escritório onde ficava a única TV de casa pra assistir o Bozo e sempre estava comendo bolachas recheadas, o cômico é que não entendia porque as bolachas que eu mais gostava, as waffles, caíam nos meus olhos enquanto as comia, parecia uma guerra contra mim, talvez não quisessem ser comidas por mim, sei lá!!! Agora as redondinhas ou mesmo aquelas quadradinhas bonitinhas e gostosinhas que já não vemos tão frequentemente, vinham pra minha boquinha sem relutar... kkkkkkkkk O pior de tudo é que demorou bastante tempo pra eu saber que existia a tal da gravidade!!!
Que loucura!!!
Que inocência!!!
Que maravilha!!!
Quando eu era criança não tinha ideia dos caminhos que percorreria, não imaginava as lágrimas que derramaria, nem as dores que sentiria mas quando eu era criança tinha fé, pura e simples como deveríamos sempre ter, pois em nenhum de meus sonhos entravam as lágrimas, dores e nem caminhava por lugares desconhecidos.
Quando eu era criança, era exatamente como deveria ser por toda vida, inocente, pura e honesta, cheia de vida e bela na essência.
Que saudade de ser criança. 

Hoje cresci, vivi tudo que pensava ser tão impossível quando criança, vivi até mais do que imaginei, muito mais mesmo só que a saudade da inocência, da juventude me faz sentir que o melhor da minha vida eu vivi naquela época. 
Os dias são muito preciosos, não almeje tanto o amanhã senão perde seu presente e quando se der conta estará chorando por tudo que desperdiçou em vez de sorrir por tudo que viveu. 
Ame viver, não tem coisa mais bela do que a dádiva da vida. 

Dag Veloso



sábado, 2 de junho de 2012

O novo dia raiou



Ainda na euforia pela felicidade de estar livre de drogas e tratamentos pesados ñ consigo dormir... Estou feliz mesmo; sorrindo e rindo à toa, como uma paixão, só que esta pela pessoa certa (rsss): EU, ou seja, minha vida.

Estou pensando naquele vale que mencionei outro dia, acabo de fazer a curva e já começo a avistar a linda paisagem.

O horizonte que antes eu não via agora já iluminado está pois o NOVO e mais belo dos dias raiou.
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Muitas vezes eu tive medo. Nem todos entendem mas meu medo era maior do ser humano do que da própria doença, nem sempre foi ela que anunciou o fim da minha vida... O mieloma me trouxe ensinamentos, me fez entender o valor que minha vida tem, me trouxe onde estou...o mieloma foi a fornalha que me purificou. Conheci pessoas maravilhosas, tantas que ajudei com incentivo que muitas vezes à mim faltava, pessoas que apoiaram minha causa ou que se motivaram ao me conhecer, também tantas que me ajudaram de diversas maneiras, surpreendentes até. Não poderia olhar apenas o que me foi tirado sendo que no final das contas o lucro foi muito maior.
Numa postagem de ontem mesmo eu disse que não sabia se gostava ou somente odiava a situação em que me encontrava.
Eu me referia a doença que, lógico, preferia não ter mas quando penso em tudo que aprendi, aprendo e aprenderei me sinto ingrata em dizer isso.
Passei por situações que outras pessoas também passam, muitas escolhem passar por elas murmurando o tempo todo, outras preferem notar as flores nascendo.
Algumas vezes eu murmurei, esbravejei e questionei, outras vezes esqueci as dores e paquerei...rsss.
Pois é, eu paquerei; homens bonitos, inteligentes e também aquela vitrine do lindo vestido vermelho que não pude comprar...rsss. E mais: - Quando que alguém que se entrega chora de emoção porque está pilotando uma moto?
Eu vivi muitos dias na incerteza, contudo ainda assim os vivi.
Cada molécula existente em mim clama por vida e exalta quem a mim a entregou.
Eu me sinto feliz porque hoje estou viva e com a esperança de que amanhecerei ainda mais viva.


Dag Veloso