sábado, 14 de fevereiro de 2015

Sorrindo pra vida

O sorriso sempre deixa tudo mais leve.
Foi uma semana difícil mas no fim o sorriso raiou como sol.
Na madrugada de sexta feira já estava no hospital e andando pelo pátio sob a escuridão do céu eu me senti tão pequena.
Ao passar por uma janela ouvi um gemido, longo e triste, não sei se era homem ou mulher, só deu pra perceber que era de dor e enquanto eu caminhava em direção à praça da capela o som continuava mesmo que distante e meus pensamentos se embaralhavam a fim de nem ter ideia do que realmente pensava.
Eu havia passado por uma semana já difícil e isso poderia ter me derrubado se não fosse a força que Deus tem me dado.
Há alguns meses tenho ido só ao hospital e foi por vontade própria, um jeito de mostrar à vida que ainda posso, mesmo no dia da internação para o transplante eu viajei sozinha e, embora tenha me sentido só, também me senti forte.
Deus tem sido minha fortaleza quando ando pelas ruas de São Paulo em busca de postos de saúde pra pegar remédios ou ao Ame, mesmo quando quero passear usando metrô ou ônibus pois acontecem coisas ao meu redor mas nada comigo.
Viajar em vans da prefeitura em péssimo estado, que nunca param na garagem e estão sempre com barulhos estranhos sem acontecer o pior é coisa de Deus.
Também já gemi de dor, a maioria das vezes sozinha pra não ter que me deparar com olhares de pena e não sei se senti pena daquela pessoa que gemia, eu não sei bem o que senti, só fiquei num silêncio absoluto ouvindo meus próprios passos enquanto não chegava no setor onde deveria estar pela manhã.
Esse ano completo dez anos de luta, altos e baixos e já lamentei todas as perdas, inclusive o meu próprio enterro. A morte de uma pessoa cheia de sonhos, romântica e que tudo que esperava era o amor, era sentir-se amada, formar um lar e tentar ser a melhor esposa e mãe que pudesse.
Eu achava que podia ser mas não percebia que não era e se não somos, jamais seremos. Não dá pra ficar contando com o amanhã, ou agimos agora ou a vida nunca acontece e minha vida não acontecia, eu não fui mãe, nem boa e nem ruim mas fui esposa e não fui a melhor que pude.
Talvez também possa contar com o desencontro de ideais, tendo em vista que eu só tinha como meta ser esposa e mãe, já meu ex objetivava uma mulher de atitude, profissional, cheia de pose.
Não sei se dá pra contar com isso pra diminuir um pouco de nossas culpas mas é certo de que nós formamos um grande erro juntos, não era pra ser e disso tenho absoluta certeza.
Ambos perderam 16 anos de nossas vidas esmurrando pontas de facas e saímos dilacerados não só nos punhos.
A busca hoje é conhecer melhor a Dag que nasceu de tudo isso, medir força pra saber até onde vou.
Sempre fui muito dependente e ainda não estou totalmente independente, ainda me sinto indefesa em certas situações e mesmo me desafiando ainda tenho muito chão pela frente pra chegar na pessoa que preciso ser pra sobreviver nessa imensa selva que chamamos sociedade.
A vida está acontecendo o tempo todo e não nascemos e nem morremos juntos ou acompanhados de quem quer que seja; de certo que melhor vive aquele que foi preparado pra lutar por si mesmo do que aquele que pega carona na vida de outra pessoa.
Não gosto da Dag que fui, alguns pontos dela eram até belos mas piegas demais.
E tentando mudar ainda cometo vários erros mas eu chego lá.
Hoje o dia está lindo e é o meu sorriso que o fez assim.

Dag Veloso