Bem, eu saí mais cedo pra no caso de desistir dar tempo de voltar pra guardar a moto e ir pra lá sem que atrapalhasse o horário que havia combinado.
Sei que quando estava chegando perto do Masieiro (Metalúrgica), vi alguns carros e caminhões passarem na pista e até pensei em desistir mas, vamos combinar, desistir não é muito minha cara e então eu simplesmente fui.
O percurso não chega a meia hora e facilmente cheguei à cidade deles.
Quando lá cheguei uma sensação de EU POSSO me invadiu, foi como se tivesse feito algo tremendamente difícil, como se tivesse atravessado um oceano ou mesmo o mundo inteiro.
Sim, lá vou eu de novo com aquelas minhas histórias corriqueiras que ninguém entende o valor tão alto que as dou.
Pois é, eu tenho muitos medos adquiridos pelas situações que vivi com o mieloma, minha insegurança com a vida é como alguém que segura um cristal muito valioso com uma única mão e ainda ensaboada.
Foram muitas as vezes que não tive certeza de que conseguiria e já desisti de várias coisas, sim. Não sou tão persistente quanto pareço diante de minhas publicações. Muitas vezes não gosto da sensação que isso traz e não quero esse sentimento continuamente em mim.
Eu amei a sensação de liberdade que me causou ter feito isso, a sensação de poder fazer o que não era provável que eu fizesse.
Sei que é complicado pra quem me ama entender o porquê de eu fazer coisas desse tipo, sei que se preocupam comigo, como meu irmão Douglas Veloso que pediu pra eu tomar jeito e ir com mais calma. Eu entendo o que se passa na cabeça dele e de outras pessoas que se preocupam e talvez eles ainda não tenham parado pra tentar entender o que se passa na minha cabeça; no meu coração.
Eu necessito de momentos assim, saber que eu posso, que ainda estou viva.
Como no dia que voltei de São Paulo em 10 de junho deste ano, vim de carona com um amigo e ele me deixou vir dirigindo o carro dele. Pra quem não sabe eu só tirei carta de moto, não sei dirigir carro e ele me ensinou em plena estrada. Isso é algo bem comum, eu sei. Existem muitas pessoas que dirigem sem ter carta e aprendem fora da auto escola mas a questão é que no dia 10 de junho eu completava 7 anos do dia que havia sido internada pela primeira vez no Amaral Carvalho com o diagnóstico de câncer.
7 anos depois do que me pareceu ser uma sentença de morte eu estava ali, dirigindo um carro de volta pra minha casa.
Imagina o que eu sinto quando faço algo assim!!
Eu me sinto um milagre e quando estou desanimando ou entristecendo-me com algo necessito coisas assim pra entender que eu ainda posso.
As coisas podem não ser como eu sonhei mas eu ainda posso, as coisas podem ter se perdido após o mieloma mas eu ainda estou aqui.
Simples assim, essa sou eu, Dag, que vive o dia de hoje que Deus me dá e, podem crer, Ele foi e voltou comigo em cima, na frente, atrás e dos lados da minha pequena moto que também fora presente dEle.
Quanto aos perigos, quer maior perigo que se ter uma doença dentro de si onde os médicos te dizem que pode voltar sem ter o que fazer?
E seu puder escolher entre morrer numa moto com a sensação de liberdade ou numa cama de hospital agonizando, o que acham que eu escolherei?
No entanto não penso na morte dessa ou daquela forma quando eu faço essas coisas, penso na vida, o que é a vida senão um sopro que um dia sessa?
Eu não tenho tanto viço de juventude que me permita fazer essas coisas todos os dias, não é sempre que estou bem ou mesmo disposta pra isso mas quando Deus me presenteia com dias de grande intensidade não seria boba de ficar em casa dormindo, né?
Ahhhhhh! E ainda não tenho a Habilitação, estou só com a Permissão Para Dirigir... rsss
O que digo agora é que vivam suas vidas com muito amor, amor ao próximo, amor à si mesmo e principalmente amor à Deus e mesmo em meio à lutas, tudo lhe servirá por vitória, suas lágrimas se tornarão como diamantes, seu desespero se mudará em esperança, sua tristeza será substituída pela alegria da Salvação em Jesus.
Dag Veloso