Hoje soube do casamento da filha mais velha do meu antigo médico, tenho certeza de que foi lindo até mesmo pela beleza da própria moça tão encantadora que é.
Só que não pude evitar de lembrar da vez que ele riu por eu ter ficado estéril e o imaginei levando-a ao altar, realizando um dos sonhos dela, talvez o dele mesmo, inevitavelmente o que se espera após uma união matrimonial, mesmo que não de imediato, é a dádiva do filho ou filhos.
Não pude conter meus pensamentos e indaguei: _Que tipo de ser humano sorri diante de suas realizações tendo destruído ou zombado dos sonhos de outra pessoa?
Foram tantas as vezes, foram tantos sonhos que escapuliram de minhas mãos, meu coração foi dilacerado impiedosamente e a cada tristeza lá vinham as pessoas me dizendo que eu devia ser grata.
Grata à quê?
Me diga você, a que devo agradecer?
No auge dos meus sonhos e antes mesmo de concretizá-los os perdi: saúde, casamento, filhos, juventude, viço...
É muito simples pessoas virem me dizer que tenho que ser grata quando suas vidas são quase como contos de fadas.
Não, eu não estou sendo ingrata agora, também não estou desejando coisas ruins pra ninguém até mesmo por conhecer essa moça e saber que ela é um anjo. Apenas estou indignada com a maneira como fui tratada e não somente uma vez mas muitas.
Esse mesmo homem tantas vezes segurou minhas mãos e me fez crer que se importava, me conquistou com seu jeito brincalhão mas assim como meus sonhos também a amizade dele era uma ilusão.
As coisas que vivo ainda não são de todo mal, estou como ele mesmo me disse certa vez, sobrevivendo e sobrevivendo bem. Mas tudo que me foi feito ou dito foi com injustiça porque eu já estava no fundo do poço e não havia necessidade de qualquer pessoa tripudiar.
Agradeço, sim, pelas tantas chances que tive e ainda tenho mas não venha ninguém me dizer que devo ser grata quando não passam pelo mesmo que eu passei. A dor do câncer acrescida à dor da alma só quem já sentiu sabe como é e não aceito que mais ninguém me fale que tenho de ser grata quando vejo pessoas insensíveis fazerem exatamente as coisas que se alegraram serem impossíveis pra mim.
Sou grata, sim, mas não me conformo quando, nem ao menos, recebo um pedido de desculpas.
Dag Veloso
Coisas de Daguinha não é bem um diário virtual, diria que são coisas que sinto serem importantes pra mim e gostaria de dividir com outras pessoas. Histórias simples e verdadeiras, alguns sentimentos, algumas notas importantes e muito amor.
quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
2012
2012 está acabando e foi um ano incrível, não posso reclamar pois foi um bom ano mesmo com as dificuldades.
Desde fevereiro quando aniversariei me foi dito que seria meu ano, uma nova história começava a ser escrita e Deus me restituiria algo perdido.
Foram muitas coisas que perdi mas nem todas eram pertencentes à mim e se foram tarde, e não fazem falta.
A única coisa que sei que é minha e me foi tirada, foi a saúde, o resto que perdi nada era meu, de fato.
Minha história começou a mudar uma semana após meu aniversário quando no hospital em que fazia tratamento fui destratada por uma médica. Naquele dia eu fiquei tão perdida que me sentei num canteiro de frente ao estacionamento do hospital e com a cabeça entre meus braços cruzados chorei como uma criança perdida da mãe. Naquele momento em meio ao choro, orei à Deus pedindo que me tirasse dali pois não aguentava mais tanta pressão e tanto descaso.
Não precisei brigar, apenas encontrei nas pessoas o auxílio do próprio Deus que me tirou de lá no mesmo mês.
Eu espero que um dia os médicos entendam que, nós pacientes, somos seres humanos e temos medos, temos ansiedades, incertezas, instabilidades emocionais; ora por medicamentos, ora pela doença, ora por insegurança mesmo. Não entendo como seres humanos com tanta habilidade, tanta inteligência podem nos tratar como se não existíssemos, como se fôssemos nada.
Na minha lista de coisas a serem realizadas, essa é uma delas, que os médicos nos sintam como seres humanos que querem confiar neles, que precisam deles, que precisam de defensores reais, pessoas que lutem por nós porque estamos fragilizados no meio de nossa guerra íntima com um inimigo que nos consome sem misericórdia alguma.
Mas foi após aqueles dias tão decisivos que eu passei a ver portas se abrirem, oportunidades, pessoas e passei a me ver como um ser humano autêntico, coisa que o mieloma não me deixava mais ver.
Quando se tem uma doença, principalmente se for incurável, você se funde à ela, faz parte dela e ela de você, não deveria ser assim mas é o que acontece com algumas pessoas (aconteceu comigo) e depois de um tempo fica impressionado quando entende que ela não faz parte de você, nunca fará, é uma intrusa e deve ser despachada o quanto antes.
Por algum tempo eu me fundi e confundi com o mieloma mas ele não é Dagmar, é só uma doença que não me acrescentou nada, apenas pude, através da situação, aprender coisas e conhecer pessoas muito importantes.
2012 foi marcado por novas esperanças, novas sensações de medo, alegria, raiva, amor, paixão, decepção, pude sentir a vida durante todo esse ano, senti minha existência pura e simples a cada dia.
Experimento agora uma nova sensação, a expectativa pelo próximo ano. Nunca em toda minha vida tive tanta ansiedade pelo novo ano, por saber o que será, que história escreverei, que tipo de situações Deus me permitirá viver, que milagre acontecerá...
Estou com medo de 2013?
Pra ser sincera eu não queria que o ano acabasse, meus dias foram bons e não tenho pressa do amanhã mas eles correm com uma agilidade sem par e agora estamos às portas de um novo ano. Não há como retroceder, apenas ir em frente.
Estou desejosa de uma vida melhor e hoje em dia existe apenas um único sonho que preciso realizar pra dizer que valeu a pena tudo isso mas ainda nem sombra dele.
Quem sabe em 2013?!
Meu Deus! Abençoa meus dias, seja minha saúde, seja minha paz, seja meu tudo.
Dag Veloso
Desde fevereiro quando aniversariei me foi dito que seria meu ano, uma nova história começava a ser escrita e Deus me restituiria algo perdido.
Foram muitas coisas que perdi mas nem todas eram pertencentes à mim e se foram tarde, e não fazem falta.
A única coisa que sei que é minha e me foi tirada, foi a saúde, o resto que perdi nada era meu, de fato.
Minha história começou a mudar uma semana após meu aniversário quando no hospital em que fazia tratamento fui destratada por uma médica. Naquele dia eu fiquei tão perdida que me sentei num canteiro de frente ao estacionamento do hospital e com a cabeça entre meus braços cruzados chorei como uma criança perdida da mãe. Naquele momento em meio ao choro, orei à Deus pedindo que me tirasse dali pois não aguentava mais tanta pressão e tanto descaso.
Não precisei brigar, apenas encontrei nas pessoas o auxílio do próprio Deus que me tirou de lá no mesmo mês.
Eu espero que um dia os médicos entendam que, nós pacientes, somos seres humanos e temos medos, temos ansiedades, incertezas, instabilidades emocionais; ora por medicamentos, ora pela doença, ora por insegurança mesmo. Não entendo como seres humanos com tanta habilidade, tanta inteligência podem nos tratar como se não existíssemos, como se fôssemos nada.
Na minha lista de coisas a serem realizadas, essa é uma delas, que os médicos nos sintam como seres humanos que querem confiar neles, que precisam deles, que precisam de defensores reais, pessoas que lutem por nós porque estamos fragilizados no meio de nossa guerra íntima com um inimigo que nos consome sem misericórdia alguma.
Mas foi após aqueles dias tão decisivos que eu passei a ver portas se abrirem, oportunidades, pessoas e passei a me ver como um ser humano autêntico, coisa que o mieloma não me deixava mais ver.
Quando se tem uma doença, principalmente se for incurável, você se funde à ela, faz parte dela e ela de você, não deveria ser assim mas é o que acontece com algumas pessoas (aconteceu comigo) e depois de um tempo fica impressionado quando entende que ela não faz parte de você, nunca fará, é uma intrusa e deve ser despachada o quanto antes.
Por algum tempo eu me fundi e confundi com o mieloma mas ele não é Dagmar, é só uma doença que não me acrescentou nada, apenas pude, através da situação, aprender coisas e conhecer pessoas muito importantes.
2012 foi marcado por novas esperanças, novas sensações de medo, alegria, raiva, amor, paixão, decepção, pude sentir a vida durante todo esse ano, senti minha existência pura e simples a cada dia.
Experimento agora uma nova sensação, a expectativa pelo próximo ano. Nunca em toda minha vida tive tanta ansiedade pelo novo ano, por saber o que será, que história escreverei, que tipo de situações Deus me permitirá viver, que milagre acontecerá...
Estou com medo de 2013?
Pra ser sincera eu não queria que o ano acabasse, meus dias foram bons e não tenho pressa do amanhã mas eles correm com uma agilidade sem par e agora estamos às portas de um novo ano. Não há como retroceder, apenas ir em frente.
Estou desejosa de uma vida melhor e hoje em dia existe apenas um único sonho que preciso realizar pra dizer que valeu a pena tudo isso mas ainda nem sombra dele.
Quem sabe em 2013?!
Meu Deus! Abençoa meus dias, seja minha saúde, seja minha paz, seja meu tudo.
Dag Veloso
sábado, 15 de dezembro de 2012
Voltando pra casa
Eu vou sentir saudade
do verde que veste a terra,
do azul que disfarça o infinito,
da água que corre,
da que também cai.
Água que sacia a sede
também limpa e refresca.
Sentirei falta da brisa
nos dias quentes de verão,
do ar da manhã,
da sinfonia das aves,
das montanhas que saltam à vista
com tamanha formosura.
Sentirei falta das rochas
com suas formas peculiares.
Das lindas flores tão frágeis.
Das noites iluminadas e
também das escuras.
Sentirei falta, sim, de tudo isso.
"Voltando pra casa" e olhando a paisagem, descrevi algumas coisas que eu amo e que não gostaria de ficar sem, só não me permiti imaginar ficar sem os que eu amo.
Muitas vezes passamos pela vida sem percebê-la...
Voltar pra casa pode me fazer perceber isso tudo ou me fazer sentir saudade disso tudo.
Voltarei pra casa em breve.
Dag Veloso
do verde que veste a terra,
do azul que disfarça o infinito,
da água que corre,
da que também cai.
Água que sacia a sede
também limpa e refresca.
Sentirei falta da brisa
nos dias quentes de verão,
do ar da manhã,
da sinfonia das aves,
das montanhas que saltam à vista
com tamanha formosura.
Sentirei falta das rochas
com suas formas peculiares.
Das lindas flores tão frágeis.
Das noites iluminadas e
também das escuras.
Sentirei falta, sim, de tudo isso.
"Voltando pra casa" e olhando a paisagem, descrevi algumas coisas que eu amo e que não gostaria de ficar sem, só não me permiti imaginar ficar sem os que eu amo.
Muitas vezes passamos pela vida sem percebê-la...
Voltar pra casa pode me fazer perceber isso tudo ou me fazer sentir saudade disso tudo.
Voltarei pra casa em breve.
Dag Veloso
Depois da janela
Texto escrito dia 04 de dezembro de 2012.
Mais um dia, mais um exame, rotineiro mesmo assim incomodo e logo que saí resolvi tomar meu café no banco da praça do hospital e avistei várias janelas, muitas delas fechadas o que me inspirou os pensamentos.
Viajei através daquelas janelas.
O que elas representam?
O que há por trás delas?
Dor? Medo? Tristeza? Esperança? Será que a própria morte?
Não sei, porém já estive do outro lado da janela e não podia contemplar o azul do céu, nem o verde do jardim. Me agarrava ao relógio pra não deixar de fazer parte do tempo ou ele de mim.
Hoje estou deste lado da janela, contemplando tudo com olhos atentos e sedentos mas também a janela ainda posso ver, ela ainda está em algum lugar, de vez em quando a vejo e me lembro de como é estar do outro lado.
Eu penso que sempre há o que aprender e o fato de eu sempre esbarrar com ela deve ter um motivo bastante importante.
Todas elas representam o desconhecido, o inesperado, limitação, talvez o fim, todas são incógnitas, o melhor é estar sempre do lado de fora, junto ao jardim, debaixo do céu, sentindo o calor do sol ou admirando a beleza da lua e estrelas.
Não sei se em sua vida você se depara com alguma "janela" mas minha janela, essa mesmo, representa a delicadeza e fragilidade da vida.
Viver a vida é muito mais que fazer coisas extraordinárias, tem que senti-la o tempo todo, tem que amar, prestar atenção...
Dag Veloso
(As fotos deste texto foram tiradas por Dag Veloso)
Mais um dia, mais um exame, rotineiro mesmo assim incomodo e logo que saí resolvi tomar meu café no banco da praça do hospital e avistei várias janelas, muitas delas fechadas o que me inspirou os pensamentos.
Viajei através daquelas janelas.
O que elas representam?
O que há por trás delas?
Dor? Medo? Tristeza? Esperança? Será que a própria morte?
Não sei, porém já estive do outro lado da janela e não podia contemplar o azul do céu, nem o verde do jardim. Me agarrava ao relógio pra não deixar de fazer parte do tempo ou ele de mim.
Hoje estou deste lado da janela, contemplando tudo com olhos atentos e sedentos mas também a janela ainda posso ver, ela ainda está em algum lugar, de vez em quando a vejo e me lembro de como é estar do outro lado.
Eu penso que sempre há o que aprender e o fato de eu sempre esbarrar com ela deve ter um motivo bastante importante.
Todas elas representam o desconhecido, o inesperado, limitação, talvez o fim, todas são incógnitas, o melhor é estar sempre do lado de fora, junto ao jardim, debaixo do céu, sentindo o calor do sol ou admirando a beleza da lua e estrelas.
Não sei se em sua vida você se depara com alguma "janela" mas minha janela, essa mesmo, representa a delicadeza e fragilidade da vida.
Viver a vida é muito mais que fazer coisas extraordinárias, tem que senti-la o tempo todo, tem que amar, prestar atenção...
Dag Veloso
(As fotos deste texto foram tiradas por Dag Veloso)
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