quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

E eles?

Hoje é dia de hospital. Perdi a hora pois a noite foi longa e insone, por conta disso vim ao hospital em jejum. Após ter dado meu nome para a secretária fui à lanchonete e tomei um café com leite e o pão de queijo costumeiro, quando me sentei para comer visualizei um senhorzinho, carequinha, magro, que me pareceu estar tão solitário ali sentado à beira de um canteiro. Ele estava encurvado como quem está já cansado por tão grande fardo a carregar. 
Eu mal podia engolir meu café, tamanha compaixão que senti por ele, então uma voz falou ao meu coração pra levar-lhe algo para comer. Rapidamente tomei meu café e ainda olhando-o pensava em como fazer pra não ofendê-lo e não parecer uma esmola. 
Foi então que me levantei, pedi o café com leite pra viagem, peguei açúcar e uma colherzinha que coloquei dentro do pacote do salgado e fui em direção à ele, tão indefeso e frágil senhor. 
Então eu disse: _Senhor, pode me fazer um favor? Eu comprei esse café da manhã mas a enfermeira me disse que tenho que ficar em jejum, o senhor pode tomá-lo por mim? 
Ele sorriu com uma satisfação tão grande e foi logo pegando o copo e o pacotinho, ao mesmo tempo agradecendo. 
Meu coração derreteu naquele momento. Senti um misto de sentimentos, num momento era a melhor pessoa do mundo em outro, quase que ao mesmo tempo, era a pior pessoa do mundo. Muitas vezes reclamo de coisas tão pequenas enquanto outros estão simplesmente com fome. 
Eu senti um amor tão grande inundar meu coração, senti vontade de proteger aquele senhor que parecia até uma criança. 
Saí de lá e segurando para não explodir em choro corri para o setor onde minha prima Damaris trabalha e lá chorei taaanto...  quando consegui contar o que havia acontecido a fiz chorar também. 
Temos tantos problemas na vida mas ... e "e l e s"? 
São tantas pessoas que precisam de ajuda e só pensamos em nós. 
Quantas pessoas terão passado pela minha vida sem que eu as tenha notado?
Quantas oportunidades de ajudar alguém eu devo ter perdido por estar preocupada comigo mesma?
Meu Deus! E eles? "Eles" que não têm um prato de comida, que, muitas vezes, nem sequer onde dormir têm, que mal sabem se defender. Debilitados pela falta de alimento, pela falta de Deus e mesmo assim, enfrentando doenças que os consomem como se fossem seres a devorar-lhes de dentro pra fora. 
Olhar ao redor e não pra si mesmo nos faz sensíveis à dor alheia e nos ensina a contar nossos dias com sabedoria. 
Os dias estão passando e vivemos como se estivéssemos em uma corrida para alcançar um troféu sendo que me parece que a única coisa certa ao final desta corrida é a própria morte. 
Ninguém mais se importa com quem sofre, não mais se doam e também não valorizam a inocência e a pureza de sentimentos. 
As pessoas estão se tornando cada dia mais egocêntricas e volúveis, trocam uma por outra como quem troca de carro, aliás, trocam mais facilmente de pessoas do que de carro. Que loucura! Que apego desnecessário, total inversão de valores. 
É pena! Não sou doutora em nada, não tenho riqueza alguma [material, entenda bem!] e não me sinto menos que qualquer outra pessoa afinal quanto mais se tem em riqueza e inteligência menos se tem em caráter, sensibilidade e sabedoria. 
Olhar ao redor não é pra qualquer um, tem que se ter o mínimo de humildade pra perguntar: _E eles?




Dag Veloso



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