domingo, 28 de fevereiro de 2016

Jardim da vida

Quando eu era criança nossas deficiências eram resolvidas quando saíamos pra brincar com os amiguinhos na rua ou no pátio do prédio que morava.
Sofriamos bullying mas não era caso de depressão ou de polícia.
Lógico que lembranças ficam e algumas não tão boas, a carência de família permanece mas viver é isso, um caminhar num jardim com flores e espinhos, alguns passam mais por flores que outros mas todos saem dele com alguns arranhões.
Hoje em dia parece que a vida virou um jardim mais de espinheiro do que flor para as crianças, onde elas sofrem e são medicadas pra viverem anestesiadas e longe da realidade.
Será que o peso realmente é maior e os espinhos predominam ou será que estamos querendo facilitar nosso "trabalho".
Coitadinhas de nossas crianças!
São mais vítimas do nosso comodismo do que dos tais espinhos.

Dag Veloso

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Palavras

Palavras fazem parte de mim, sou expressiva até no olhar porém é difícil me calar.
Ah! Vontade louca de me declarar sem medir as consequências, sem olhar pro lado, correr ao teu encontro e esquecer todo resto.
O coração e a razão brigam entre si e em acordo algum querem chegar.
Sou mais razão e você todo coração.
Não tem rima e o verso ficou perdido assim como meu amor por você.

Dag Veloso

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

"Pela tampa"

Cheguei a pensar que meus recados seriam levados à sério.
Eu cri que conseguiria mudar opiniões com meu testemunho, tentando andar corretamente.
Aí me percebo solitária, como quem fala sozinha, ou quem escreve num papel de pão pra depois jogar fora. E pior, solitária no meio de pessoas. Certamente é a pior das solidões.
Acontece que as pessoas até te aceitam como é mas pra poder te obrigar a engolir seus problemas, suas desonestidades, seus erros.. 
Enfim, tô cansada demais de ver tanta gente escondendo erro e tentando me vender seus contos de fadas.
Tô cansada de ser conivente com sem vergonhas, porque fico esperando que eu possa ajudá-los com conselhos ou mesmo com minhas atitudes que eu cri falarem mais que minhas palavras.
Tô cansada de surpresas.
Quanto mais vivo mais amo viver sozinha, mais adoro minha solidão, ela é perfeita, pois sei exatamente o que posso esperar dela.


Dag Veloso




Olhares perdidos

Meu olhar cruzou com o olhar de uma senhora que dirigia e pensei com quantos conflitos aquela vida se depara. Apesar da beleza e aparência deve ter tanto alegrias quanto tristezas e provavelmente não iremos saber uma da outra. Nos olhamos e não temos a menor noção do quanto especiais ou insignificantes somos no mundo. Eu sempre penso na enorme distância que existe entre os seres humanos e em como vemos como seres humanos somente quem conhecemos, o resto se torna sem importância.
Facilmente conseguimos perder a paciência no trânsito, por exemplo, porque se torna indiferente a existência de um ser humano cheio de conflitos, que talvez tenha acabado de tirar carta ou esteja correndo porque há alguém doente no banco de trás ou de vagar porque tenha um paciente de mieloma com muita dor (aconteceu comigo) etc, etc...
Se houvesse uma consciência clara da fragilidade tanto emocional quanto física de cada pessoa que nos passa despercebido o mundo seria menos humano e mais espiritual, certamente seria melhor.

Dag Veloso

Elevado Costa e Silva, Santa Cecília/SP

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

4.0

40 anos.
Pois é; eu cheguei.
Hoje completo 40 anos.
É um misto de sentimentos onde prevalece a surpresa.
Penso com certa dor em coisas que não fiz as quais fariam orgulhar-me de mim, penso nas coisas que pretendo realizar, penso nesses onze anos de luta contra o mieloma e parece que vivi tanto.
É assustador, é surpreendente e é notável eu ainda estar aqui.
Minha vida é marcada pela sobrevivência e não sei até que ponto isso é bom ou mesmo ruim.
Às vezes me sinto destemida e outras vezes tenho tanto medo.
Hoje não sinto o gosto dos 40, aliás nem lembro de ter sentido dos 30 e talvez eu passe toda minha vida contando os dias como se fossem o primeiro e o último.
O sentido de tudo isso eu desconheço.
O sorriso mascara minha dor como maquiagem a esconder imperfeições.
Soprarei as velas e nelas a menina de 8 anos ainda estará a pedir pela própria família, exatamente como há 32 anos.
Sou a mesma menina, porém presa em corpo surrado, pequena em corpo crescido, tentando sobreviver em meio a imensa insatisfação de conhecer a realidade humana.
E é tudo fascinante mesmo sendo horripilante.
Continuarei minha contagem... 41, 42, 43 e... será?
Te conto quando chegar lá.

Dag Veloso