quarta-feira, 27 de abril de 2016

Foram os atalhos

Tantas pessoas me dirigem lindas palavras pra expressar a grande admiração por eu ser isso e aquilo mas poucas sabem como realmente me sinto.
Sozinha, despreparada pra vida, indefesa, tentando lutar pra sobreviver no meio da humanidade desumana que existe até mesmo em ambiente familiar.
É tão simples acharem que sou corajosa só porque me interno sozinha em outra cidade, que mesmo tomando quimioterapia consiga viver só, que eu me cuide mesmo tendo dores e sorria mesmo diagnosticada com MM.... Mas depois que me elogiam cada um pega sua família e volta pra casa, mesmo tendo seus problemas conseguem repousar na segurança de suas saúdes, profissões ou empregos estáveis, talvez um marido provedor, enfim é como se os elogios fossem desculpas inconscientes pra poderem me dar as costas e dormirem em paz ou uma explicação pra eu me conformar com o fardo.
Não que as pessoas precisem se desculpar por eu ter ficado doente, perdido meu casamento, não poder ter filhos, não conseguir confiar mais nos homens, etc etc..
Mas depois de um tempo você começa a entender que já não sabe amar, se protege afastando quem se aproxima pra não correr riscos e percebe que sozinha até mesmo quem jamais imaginaria é capaz de querer tirar proveito.
Pois é; você corta as asas de um pássaro durante anos e no dia que esquece de cortá-las ele voa direto pra boca de um gato.
De repente me sinto assim, voando e me debatendo pra não ser pega por nenhum felino mal intencionado.
E aprendi que não existe primo, tio ou amigo que não seja tão capaz de tirar proveito de uma mulher só tanto quanto um e talvez até mais que um desconhecido.
Eu vivi anos dependendo dos meus pais, saí de casa pra depender de um marido e tive que aprender a me cuidar sozinha.
Coloquei muita gente pra correr da minha vida, algumas só dei as costas sem nem dizer nada (nem valia uma palavra), outras eu guardei na caixinha da saudade e apesar de não ter contato não deixei de amar.
Mas ainda não entendi nada.
Pois continuo me sentindo desamparada e não importa quantas pessoas ainda convivam comigo, ainda me sinto incompleta.
Muitos equívocos, vivi me enganando durante anos com uma vida de faz de conta e quando enfim a estória terminou me vi assim.
São os atalhos?
Cuidado com os atalhos, cuidado com as caronas.

Dag Veloso



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