Diferente da novela, o dia que decidi cortar meus cabelos e raspar a cabeça não houve uma linda música de fundo, o único som que ouvi foi o do silêncio; o meu silêncio e o controle extraordinário pra não chorar naquele momento.
Foi em julho de 2005, o dia não sei, nunca marquei no meu diário e nem comentei sobre o assunto lá e nem precisaria, o momento nunca seria esquecido mesmo!
Pedi que tirassem o espelho de meu quarto pra que não me visse daquele jeito, ao menos, sem que me preparasse pra aquilo.
Quando tia Suzel terminou eu me levantei lentamente e com meu andador segui até o quarto ainda em silêncio, percebia que meu priminho de apenas 5 anos vinha me seguindo, ainda me controlando pra não chorar me sentei à beira da cama e o olhei. Ele estava também em silêncio e com a expressão de espanto tive que arriscar a pergunta:
_Fiquei feia, né Gabi?
Corria o risco ali de ouvir um sim, já que sendo criança naturalmente diria a verdade e longe de mim crer que estava bela daquele jeito mas sua resposta me surpreendeu e ainda hoje me encanta. Simplesmente respondeu exatamente isso:
_Não Daguinha, ficou linda!
Cai num choro entre soluços e ainda hoje me emociono ao me recordar daquele momento.
Foi um dos momentos mais significativos da minha vida e o que ele me disse, nunca esquecerei.
O Gabriel e sua irmã, Letícia, respectivamente de 5 e 10 anos, foram os mais doces e eficientes remédios que me foram ministrados, foram de total importância pra minha recuperação.
Eu sempre digo que quando estamos doentes temos que ser cercados de crianças e boas pessoas, isso faz toda diferença.
Gabriel é meu anjo e eu amo muito essa criança.
E sou tão grata por ter uma vasta coleção de declarações de amor, tenho mesmo muita sorte.
Dag Veloso
Sabe Dag, eu também como vc não tive música de fundo, um silêncio...as pessoas que estavam no salão a que fui saíram para chorar, eu segurei, não chorei e até esbocei um sorriso e fiz piada. Mas em casa só a noite sozinha chorei. Não dá para esquecer um dia assim né. Teve crianças que como os seus lidaram bem com minha careca, já outras menores ficaram com medo e aí eu me entristecia muito. Mas graças à Deus estamos aqui e isso tudo só nos fortalece. Ah! Meu filho tb chama Gabriel, tem 21 anos e sempre foi um anjo para comigo! Bjsss
ResponderExcluirNa verdade, Cristina, eu me recordo de um grande silêncio mas minhas tias disseram que não estavam em silêncio, que tentavam falar bobeiras e rir pra me descontraírem, só que já tentei várias vezes lembrar disso e não obtive sucesso. Como se tivesse sido bloqueado qualquer interferência externa e só existisse meu som lá.
ExcluirExite uma filmagem desse momento, parece que uns 3 minutos de filme e não tiveram coragem de terminar, sei lá, só que nunca tive coragem de assistir aquilo.
Bem, o que vale pra mim foi meu silêncio e prefiro lembrar desse jeito, como um respeito profundo à minha dor, bem como aquele minuto de silêncio que rendemos à um falecido... aff, mas é bem isso!!! bjss
Não sei nem de longe o que vocês passaram. Mas relatos como esses e força que vocês conseguem transmitir fazem diferença na vida de muita gente, que enfrenta ou não situações iguais. Fiquei verdadeiramente emocionada. Que Deus as abençoe.
ResponderExcluirPara mim o cabelo sempre foi uma especie de proteção, e comprido como eu usava era uma maravilha, escondia o pescoço, orelhas e até a cara... até Janeiro de 2011, data do inicio da quimioterapia, após a operação a um adenocarcinoma bilateral nos ovários. Fiz a primeira quimio numa 5.º e no sabado a seguir a minha cabeleireira e amiga Fátima foi a minha casa fazer.me um pente um. Foi terrivel para mim e para os meus filhos que assistiram, é daqueles momentos que nunca mais vou esquecer. Mas a vida tem de continuar e com mais força ainda, acabou a choradeira, toca a combinar lenços com a roupa, foi um sucesso no serviço de oncologia do hospital de Faro. Quando acabei o meu cabelo começou a crescer e ficou lindo mas foi sol de pouca dura, tive uma recidiva 6 meses depois de acabar o ciclo e tive de fazer mais tratamentos, ja não custou nada cortar o cabelo. Agora está bem pequeno, talvez o deixe crescer um pouco mas nao muito, ja nao uso lenço e vivo cada dia com muita alegria e nem me lembro do cabelo, mas quando me vejo ao espelho gosto muito do que vejo, mais importante de que os outros gostarem de nós, é nós gostarmos de nós mesmas. Beijos e muita força a todas
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