segunda-feira, 9 de abril de 2012

Gabriel, meu anjo!

Diferente da novela, o dia que decidi cortar meus cabelos e raspar a cabeça não houve uma linda música de fundo, o único som que ouvi foi o do silêncio; o meu silêncio e o controle extraordinário pra não chorar naquele momento. 
Foi em julho de 2005, o dia não sei, nunca marquei no meu diário e nem comentei sobre o assunto lá e nem precisaria, o momento nunca seria esquecido mesmo! 
Pedi que tirassem o espelho de meu quarto pra que não me visse daquele jeito, ao menos, sem que me preparasse pra aquilo. 
Quando tia Suzel terminou eu me levantei lentamente e com meu andador segui até o quarto ainda em silêncio, percebia que meu priminho de apenas 5 anos vinha me seguindo, ainda me controlando pra não chorar me sentei à beira da cama e o olhei. Ele estava também em silêncio e com a expressão de espanto tive que arriscar a pergunta:
_Fiquei feia, né Gabi? 
Corria o risco ali de ouvir um sim, já que sendo criança naturalmente diria a verdade e longe de mim crer que estava bela daquele jeito mas sua resposta me surpreendeu e ainda hoje me encanta. Simplesmente respondeu exatamente isso:
_Não Daguinha, ficou linda! 
Cai num choro entre soluços e ainda hoje me emociono ao me recordar daquele momento. 
Foi um dos momentos mais significativos da minha vida e o que ele me disse, nunca esquecerei. 
O Gabriel e sua irmã, Letícia, respectivamente de 5 e 10 anos, foram os mais doces e eficientes remédios que me foram ministrados, foram de total importância pra minha recuperação. 
Eu sempre digo que quando estamos doentes temos que ser cercados de crianças e boas pessoas, isso faz toda diferença. 
Gabriel é meu anjo e eu amo muito essa criança. 
E sou tão grata por ter uma vasta coleção de declarações de amor, tenho mesmo muita sorte. 

Dag Veloso



4 comentários:

  1. Sabe Dag, eu também como vc não tive música de fundo, um silêncio...as pessoas que estavam no salão a que fui saíram para chorar, eu segurei, não chorei e até esbocei um sorriso e fiz piada. Mas em casa só a noite sozinha chorei. Não dá para esquecer um dia assim né. Teve crianças que como os seus lidaram bem com minha careca, já outras menores ficaram com medo e aí eu me entristecia muito. Mas graças à Deus estamos aqui e isso tudo só nos fortalece. Ah! Meu filho tb chama Gabriel, tem 21 anos e sempre foi um anjo para comigo! Bjsss

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    1. Na verdade, Cristina, eu me recordo de um grande silêncio mas minhas tias disseram que não estavam em silêncio, que tentavam falar bobeiras e rir pra me descontraírem, só que já tentei várias vezes lembrar disso e não obtive sucesso. Como se tivesse sido bloqueado qualquer interferência externa e só existisse meu som lá.
      Exite uma filmagem desse momento, parece que uns 3 minutos de filme e não tiveram coragem de terminar, sei lá, só que nunca tive coragem de assistir aquilo.
      Bem, o que vale pra mim foi meu silêncio e prefiro lembrar desse jeito, como um respeito profundo à minha dor, bem como aquele minuto de silêncio que rendemos à um falecido... aff, mas é bem isso!!! bjss

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  2. Não sei nem de longe o que vocês passaram. Mas relatos como esses e força que vocês conseguem transmitir fazem diferença na vida de muita gente, que enfrenta ou não situações iguais. Fiquei verdadeiramente emocionada. Que Deus as abençoe.

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  3. Para mim o cabelo sempre foi uma especie de proteção, e comprido como eu usava era uma maravilha, escondia o pescoço, orelhas e até a cara... até Janeiro de 2011, data do inicio da quimioterapia, após a operação a um adenocarcinoma bilateral nos ovários. Fiz a primeira quimio numa 5.º e no sabado a seguir a minha cabeleireira e amiga Fátima foi a minha casa fazer.me um pente um. Foi terrivel para mim e para os meus filhos que assistiram, é daqueles momentos que nunca mais vou esquecer. Mas a vida tem de continuar e com mais força ainda, acabou a choradeira, toca a combinar lenços com a roupa, foi um sucesso no serviço de oncologia do hospital de Faro. Quando acabei o meu cabelo começou a crescer e ficou lindo mas foi sol de pouca dura, tive uma recidiva 6 meses depois de acabar o ciclo e tive de fazer mais tratamentos, ja não custou nada cortar o cabelo. Agora está bem pequeno, talvez o deixe crescer um pouco mas nao muito, ja nao uso lenço e vivo cada dia com muita alegria e nem me lembro do cabelo, mas quando me vejo ao espelho gosto muito do que vejo, mais importante de que os outros gostarem de nós, é nós gostarmos de nós mesmas. Beijos e muita força a todas

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