quinta-feira, 21 de abril de 2011

O rapaz

Percebo hoje um rapaz com uns 30 anos de idade, sem cabelo, com o soro ligado ao seu catéter, magro, frágil. Ele, com movimentos lentos se levanta quietinho com sua máscara caída ao pescoço, dobra com dificuldade a manta que o cobria, de vagar coloca na ponta de sua cama e começa a dobrar a outra. Na medida que sua força termina se esforça para terminar a tarefa de dobrar as duas mantas, então as coloca no leito ao lado. Ainda de vagar volta a se deitar segurando em sua mão direita um celular.
Atento, ele ouve as conversas e observa tudo (menos a mim que me mantinha quieta a observá-lo bem de frente). Seus olhos expressivos mostravam ao fim de uma febre; esperança. 
De repente um sorriso franco aparece em seu rosto ao ouvir os relatos dos pacientes ao lado. O rapaz estava só, vinha de longe e sua família e filhos não o viam há mais de duas semanas.
Ele estava esperando ansiosamente por uma ligação, como no outro dia quando suas crianças lhe falaram no celular, não se continha em seu choro de emoção. 
Quando se está doente não existe bobagens como machismo, podemos chorar, podemos ser verdadeiros, podemos ser seres humanos livres dos estereótipos da sociedade. 
Esse rapaz está lutando sozinho de verdade, não é como eu, porque eu tenho toda uma retaguarda aqui mesmo na cidade mas ele está longe de sua cidade e não tem com quem contar.
No outro dia ele nos disse que tinha certeza de que ficaria bom e que voltaria pra sua família, veria seus filhos de novo e poderia sustentá-los novamente. Hoje ele está visivelmente mais debilitado que da ultima vez que o vi mas sua esperança não se acabou.
Isso é lutar, na verdade, esse rapaz já é um vencedor, independente do que venha a lhe acontecer, indo ou não pra casa, ele já é um vencedor. 
Ter dignidade ao lutar nos torna bons combatentes e os bons combatentes mesmo que mortos recebem honras, porque são heróis. 
Dag Veloso

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