quarta-feira, 30 de março de 2011

Mais pérolas?

Não sei, dessa vez você me diz se são...




Eu estava, como sempre, a observar as pessoas e situações com minha caneta e bloquinho nas mãos quando fui chamada pra refazer os exames de sangue, pois o mesmo havia coagulado e foi então que me dei conta de que pouco escrevo sobre mim. 
Talvez escrever sobre o que sinto seja mais profundo do que tentar sentir o que o próximo passa, conquanto estamos em situação idêntica. 
Ao voltar da coleta de sangue, me sentei num cantinho da sala de espera, que hoje, não estava tão cheia como de costume - dava até pra ouvir a TV! - e de onde estava podia olhar todos os pacientes, secretárias e também os médicos. 
Mas logo hoje estava com meus pensamentos fervilhando em minha mente, especialmente questões sobre mim mesma.
Por algum tempo - longo até - eu quis estar sozinha; hoje já não sei, olhando para as pessoas e escrevendo sobre elas voltei meus olhos pra mim e percebi o quanto me sinto só. 
Não é falta de família, parentes e amigos, tenho o interesse de todos eles em minha vida, os quais muitas vezes insistem pra estarem comigo e eu recuso. 
Sempre quero fazer as coisas só, talvez seja essa a maneira que uso pra dizer que ainda estou no controle. Lembro-me que no ano passado quando a doença voltava sentia muita fraqueza nas pernas e pra mim era um grande desafio chegar ao hospital e retornar pra casa. Houve vezes que minhas pernas pareciam se recusar a continuar e eu as forçava a fazê-lo. 
Engraçado que não fui uma filha teimosa, excetuando a adolescência que não durou muito, não me recordo de ter sido teimosa. Mas sinto teimosia predominar em mim hoje em dia, tentando ir além do que me dizem poder, aliás tenho feito as coisas do meu jeito e sei que isso incomoda a muitos mas, NÃO A MIM, definitivamente.
Contudo entre meus pensamentos surgiu uma critica que uma tia me fez, dizendo que as pessoas não faziam mais por mim porque eu não deixava, porque colocava uma barreira pra que não chegassem mais perto, isso já tem alguns anos que me disse mas de vez enquando recordo e me questiono se faço a coisa certa. 
Até que ponto não deixar que se aproximem me faz bem?
Na última consulta com meu médico ele me perguntou: _Você percebeu como todos no hospital gostam de você?
Sim, eu sei que todos gostam muito de mim aqui, bem como em todos os lugares que vou e é recíproco, tenho muito carinho pelas pessoas e elas fazem parte da minha luta diária, como soldados fiéis que lutam ao meu lado de alguma forma. 
Mas estou sozinha. 
É, eu sei, isso é pura escolha; escolha que eu fiz. 
Isso é que é fascinante no ser humano, a complexidade do nosso ser, nem a nós nos conhecemos, porque num certo momento você decide agir de um jeito e um tempo depois você pensa melhor e vê que a maneira como está agindo não é o melhor jeito de viver e então começa a se questionar e tem que começar tudo de novo, do início, voltar a estaca zero pra fazer a coisa certa...
Não sei me descrever direito mas enquanto tento colocar um pouco de mim entre os rabiscos vermelhos da minha caneta noto uma mulher bem na minha direção usando uns 3 ou 4 bancos pra se deitar. 
Puxa! Quantas vezes senti vontade de fazer isso e não tive coragem! De vez enquando a exaustão do meu corpo me implora por um descanso desse, especialmente minha tão sofrida coluna e eu me recuso a fazê-lo. 
Sempre penso que os outros estão em pior situação e que não posso tirar o lugar de outra pessoa, nunca me dou esse direito.
Meu médico me disse, não só uma vez, que sou muito orgulhosa. Devo ser mesmo. 
Talvez eu esteja me tirando as chances de ser feliz por causa de orgulho e não me refiro aos bancos que não deito mas a todo o resto. 


Duas pessoas tentaram se aproximar de mim nos últimos tempos, querendo me conhecer melhor, namorar e eu recusei e um deles me disse que eu deveria me dar uma chance. Ah! Que atrevimento me dizer o que fazer!!!
Mas eu fiquei com isso em meu coração, mesmo assim não me dei chance e pra garantir que não mudaria de atitude me afastei dele. 
Penso que minha vida é tão incerta e insegura, é como uma rosa colhida que pra durar mais colocamos num vaso com água limpa e todo dia cortamos um pedacinho mais, trocamos novamente a água e ainda colocamos aspirina, numa tentativa de tê-la por mais tempo enfeitando nossa vida. Mas não se pode prever quanto tempo ainda vai suportar e sua beleza não é como quando estava na roseira...
Mas hoje, agora, nesse momento... eu gostaria de ter alguém pra me ligar e perguntar se já fui atendida pelo médico, me dizer que me ama e sente orgulho de mim; gostaria de me sentir necessária pra alguém, ser cúmplice, amiga...
É certo que já nem procuro porque minhas escolhas nunca foram boas e sendo curta ou longa minha vida, não quero passar o resto dela colhendo frutos de arrependimento e amargura. 


Ai! Tá difícil me descrever hoje....rs
Quantas questões dessas os seres humanos podem ter? 
Será que sou a unica maluca que fica sonhando com uma vida comum?
Por um tempo fiquei brava, não entendia porque as coisas que eu desejava, coisas tão simples que todos têm, eu não tinha conquistado.
Que besteira!
A minha vida não é comum mesmo, ela é extraordinária, especial, incrível... Eu fui escolhida entre tantos pra ter um contato maior com Deus, pra conhecer o poder, ver a glória dEle manifesta em minha própria vida.
E eu me atrevi a ficar brava com Deus?
Bom, nunca disse que fiquei brava com Deus, nem mesmo pra Ele mas minhas atitudes demonstraram essa postura diante dEle. 


Ao olhar as pessoas vejo um pouco de mim em cada uma delas, nos que se entregam vejo meus momentos de desânimo, nos que lutam vejo minha coragem e nos que esperam vejo minha persistência. Também noto insegurança, medo e cansaço.
Ah! O cansaço!
Não consigo não ressaltar o cansaço, não é?
Às vezes o cansaço do corpo é só uma fração do cansaço da alma e já não é a espera e nem a ansiedade pelo próximo passo mas, sim, o cansaço de estar aqui de novo, vendo toda essa dor.
Esse cansaço não creio ser diferente pra quem é acompanhante, porque aqui se vê a fragilidade do ser humano e suas dores, seus medos, tudo isso se nota no semblante e nas marcas que cada um carrega consigo.
Estou farta mas não posso dizer que odeie isso porque sinto meu crescimento pessoal quando aqui estou, sinto minha paixão pela vida sensível em cada parte do meu ser e aprendi a sentir tudo isso aqui.


Quando vim parar aqui no hospital pela primeira vez em 2005 eu notei uma coisa diferente.
Aqui não é lugar de disfarces, você é o que é, o único objetivo é vencer o que, pra maioria, é o mesmo que viver.
Aqui não tem competição, você não tem que disputar nada com ninguém porque a vida é individual, você não depende de ninguém pra tê-la, só de si mesmo. Então você se pega incentivando quem acabou de chegar assim como é incentivado por quem há muito tempo está lá, é uma troca. 
Ledo engano as pessoas que disputam ou competem qualquer coisa mesmo fora daqui, porque o mundo padece com suas "enfermidades" e "dores" da alma, estão como que numa eterna quarentena e se enganam se admitindo sãos. 
Somente aqueles cuidados pelo Médico dos médicos vivem de fato, o resto morre a cada dia em suas "doenças", muitos com seu próprio veneno, extraídos dos maus sentimentos que poluem seus corações.


Sabe? No fundo eu ainda me sinto a Dag criança, amada e mimada por todos. A Dag que brincava de boneca mostrando sua maternidade a flor da pele desde nova, a Dag que mandava nos irmãos ao mesmo tempo cuidando deles, cheia de se sentir necessária, mostrando sempre ser a dona do pedaço.... (risos!). Pra quem não conheceu, essa sou eu, ainda sou eu. 
Se eu olhar dentro de mim consigo ver uma menina no corpo de mulher, como se fosse criança perdida no meio da multidão, fingindo saber onde está pra não fazer feio. 
Ao mesmo tempo me vejo mulher, decidida, sabendo o que quer, especialmente o que não quer. 
Mas sinto falta da Dag criança que deixou traços permanentes na minha personalidade e deixou espaço pra uma nova Dag; Dag adulta mas cheia de inseguranças e sonhos, e intensamente apaixonada pela vida, que lindo é viver!




Descobri uma coisa em minhas auto análises, primeiro que não preciso pagar por elas....., segundo que se estiverem erradas além de não ter pago, ninguém errou por mim..... rsrsrs
É brincadeira!
Descobri que ter saúde não implica em ter felicidade, porque quando eu tinha saúde, tinha tudo aparentemente, mas não era feliz. 
Hoje em meio a tantos problemas eu consigo rir, sorrir, ver  e sentir a vida, eu sou feliz. 
Porque a felicidade está em Jesus e eu O tenho comigo. 
Viver é assim, uma descoberta atrás da outra, sobre nós especialmente. 
Como eu amo viver!!!
Como amo me entender!!!
Como eu amo!!! 




Nenhum comentário:

Postar um comentário